segunda-feira, 15 de julho de 2013

DUETO : A NAU QUE NAVEGUEI - Odir Milanez / Eugénio de Sá

A NAU QUE NAVEGUEI

Odir Milanez

A nau, em que me fiz navegador
no mar dos menestréis do nunca mais,
encalhou nos calhaus do chão do cais,
devastada das ondas ao fragor.

Só meus versos restaram, sem valor.
Sequer o vento os viu nos vendavais.
Nem mesmo as ondas, rudes nos caudais,
ouviram minha voz cantando amor.

A nau que naveguei eis destruída.
Pereceram meus sonhos no porão.
Dos velames ventosos, tristes troços...

Aos sonetos sensuais a que dei vida,
só vestígios inversos, sem razão.
Como dói ver meus versos em destroços!


JPessoa/PB
13.07.2013
oklima
 


A NAU QUE NAVEGUEI

Eugénio de Sá

Da minha nau, resta a quilha na lama
E uns quantos pedaços arqueados
Das côncavas cavernas dos costados,
Nada que lembre o que lhe deu a fama.

Com ela naveguei, tendo a bombordo
Toda a costa africana ocidental
Depois de haver deixado Portugal
O meu reino adorável que recordo.

Fui ressumando versos na amurada
No coração; a saudade da amada
No horizonte; o olhar deslumbrado.

Todas as tardes, no castelo da popa
Sempre pousava uma branca gaivota
Na espera de escutar o som de um fado.

Sintra, Portugal

14.07.2013


Podes ser lindo ou medonho
Mar salgado e infinito
Mas fazes parte do sonho
Desse sonho tão bonito!

E.Sá


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