Costumo perguntar a mim próprio donde me vem esta nostalgia de um
tempo que não vivi, mas que soube haver existido através de inúmeros
testemunhos recolhidos quer de belíssimas e inesquecíveis leituras, quer de
ternas evoções ouvidas a antepassados que há muito se foram. De um tempo em que
a delicadeza, a sensibilidade, o cuidado com os demais, o respeito pelo alheio e
pelos princípios éticos eram tão naturais como respirar. De um tempo que parecia
ter a sociedade atingido os objetivos maiores que o homem poderia ter imaginado.
De um tempo, em suma, em que o simples olhar a natureza, a sua harmonia, as suas
cores, eram, em si mesmos, prazeres indispensáveis e suficientes ao
espírito.
Será que são saudades de «uma outra vida», ou somente a mágoa de
não haver desfrutado plenamente boa parte dessas doçuras sociais, que tão bem
foram descritas pelos grandes prosadores e poetas e completadas pela
sensibilidade dos compositores imortais, os únicos - na minha opinião - que
ainda hoje justificam que se chamem "concertos" à execução pública das suas
obras?
Na verdade, sinto-me cada vez mais distante da chamada realidade
de um mundo que parece ser paralelo ao meu, de uma outra dimensão. Incrédulo ao
que vejo e escuto, quantas vezes prefiro isolar-me, remetendo-me aos meus
próprios pensamentos, evocações e íntimos
encantamentos.
Talvez «já não me use», como alguém provavelmente dirá ao ler este
desabafo. E terá razão, segundo os padrões de aferição entretanto
em vigor.
Mas que querem; não sou capaz de me ajustar à...
modernidade.
Resmunguices de velho, não liguem.
Ah, e deixo-vos um único recado: a liberdade de cada um de nós é a
conquista mais bonita alguma vez conseguida pelo ser humano. Mas ela encontra o
seu limite justamente onde começa a liberdade de outrém. Impormos a nossa
vontade a outro ser humano, subordinando-o e humilhando-o, é a negação completa
do que quer realmente significar essa bendita palavra.
Arte e
Formatação:
AugustaBS
Sintra - Portugal - Julho de 2013
Nenhum comentário:
Postar um comentário