sábado, 13 de julho de 2013

NOSTALGIA um texto de eugénio de Sá

 
Costumo perguntar a mim próprio donde me vem esta nostalgia de um tempo que não vivi, mas que soube haver existido através de inúmeros testemunhos recolhidos quer de belíssimas e inesquecíveis leituras, quer de ternas evoções ouvidas a antepassados que há muito se foram. De um tempo em que a delicadeza, a sensibilidade, o cuidado com os demais, o respeito pelo alheio e pelos princípios éticos eram tão naturais como respirar. De um tempo que parecia ter a sociedade atingido os objetivos maiores que o homem poderia ter imaginado. De um tempo, em suma, em que o simples olhar a natureza, a sua harmonia, as suas cores, eram, em si mesmos, prazeres indispensáveis e suficientes ao espírito.

Será que são saudades de «uma outra vida», ou somente a mágoa de não haver desfrutado plenamente boa parte dessas doçuras sociais, que tão bem foram descritas pelos grandes prosadores e poetas e completadas pela sensibilidade dos compositores imortais, os únicos - na minha opinião - que ainda hoje justificam que se chamem "concertos" à execução pública das suas obras?

Na verdade, sinto-me cada vez mais distante da chamada realidade de um mundo que parece ser paralelo ao meu, de uma outra dimensão. Incrédulo ao que vejo e escuto, quantas vezes prefiro isolar-me, remetendo-me aos meus próprios pensamentos, evocações e íntimos encantamentos.

Talvez «já não me use», como alguém provavelmente dirá ao ler este desabafo. E terá razão, segundo os padrões de aferição entretanto em vigor. Mas que querem; não sou capaz de me ajustar à... modernidade.
Resmunguices de velho, não liguem.

Ah, e deixo-vos um único recado: a liberdade de cada um de nós é a conquista mais bonita alguma vez conseguida pelo ser humano. Mas ela encontra o seu limite justamente onde começa a liberdade de outrém. Impormos a nossa vontade a outro ser humano, subordinando-o e humilhando-o, é a negação completa do que quer realmente significar essa bendita palavra.

Arte e Formatação:
AugustaBS
Sintra - Portugal - Julho de 2013

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