segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

ESPUMAS DESTA VIDA , um poema (em sextilhas) de Eugénio de Sá

Espumas desta vida

Eugénio de Sá


Comparemos um vinho à vida que vivemos
Degustemos-lhe os bons e os maus anos
Decantando-a, primeiro, c’o a justa isenção
Lembremos-lhe os reveses nos taninos
E as sumas glórias nas castas que florimos;
Que os seus aromas nos vão ao coração.

E nas melancolias do nosso entardecer
Saibamos recordar como foi bom de ver
As encostas radiosas nas manhãs outonais
Que escreveram a estória das lavras mais nobres;
A tons d’oiro as que amámos, a cinza outras mais pobres
Ao esgotarmos a essência nas vindimas finais.


Ergamos nossa taça ao brinde que mereçamos
Já que estamos cumprindo o ritual que amamos;
O de provar o néctar que deixamos guardado
E alguém dirá um dia desse vinho que herda
Que é uma triste zurrapa ou uma grande reserva
Foi Deus que nos guiou,   foi esse o nosso fado!




Tal como a história de uma vida
a memória da nobreza de uma grande colheita
sobrevive à sua natural extinção.



Edição:

Sintra - Portugal - Dezembro 2013 
 


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