Espumas desta vida
Eugénio de Sá
Comparemos um vinho
à vida que vivemos
Degustemos-lhe os
bons e os maus anos
Decantando-a,
primeiro, c’o a justa isenção
Lembremos-lhe os
reveses nos taninos
E as sumas glórias
nas castas que florimos;
Que os seus aromas
nos vão ao coração.
E nas melancolias do
nosso entardecer
Saibamos recordar
como foi bom de ver
As encostas
radiosas nas manhãs outonais
Que escreveram a
estória das lavras mais nobres;
A tons d’oiro as que
amámos, a cinza outras mais pobres
Ao esgotarmos a
essência nas vindimas finais.
Ergamos nossa taça
ao brinde que mereçamos
Já que estamos
cumprindo o ritual que amamos;
O de provar o néctar
que deixamos guardado
E alguém dirá um dia
desse vinho que herda
Que é
uma triste zurrapa ou uma grande reserva
Foi Deus que nos guiou,
foi esse o nosso fado!
Tal como a história
de uma vida
a memória da nobreza
de uma grande colheita
sobrevive à sua
natural extinção.
Edição:
Sintra - Portugal - Dezembro 2013
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