domingo, 27 de janeiro de 2013

FALAR DE AMOR
(Eugénio de Sá)


Não sei se falar de amor
Possa ser aliviado
Se cantado com ardor
Correndo as veias de um fado
C’o uma guitarra a trinar
Bem o ouvimos chorar

Camões a ele se referiu
Por ele morreu Dona Inês
E a dor que a Tristão cingiu
Fê-lo morrer outra vez
Que d'amor também morremos
Se de nós tudo lhe dermos
  
Porque amor é tudo, é nada
É em nós um alvoroço
Que nos toma pla calada
E nos aperta o pescoço
Como cordame de proa
Que ora folga, ora magoa

Amor é fogo sem fumo
Que arde em nós sem nos queimar
E nos deixa sem um rumo
Remexe sem molestar
Ave que voa na bruma
Rasando as ondas e a espuma

É bem que se expõe à lua
Buscando as sombras e a luz
Em alternâncias divinas
Benditas pelo Bom Jesus
Qu’isto de amar vem de Deus
Por isso Ele nos fez tão Seus.

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