FALAR DE AMOR
(Eugénio de Sá)
Não sei se falar de amor
Possa
ser aliviado
Se cantado
com ardor
Correndo as veias de um fado
C’o uma guitarra a trinar
Bem o ouvimos chorar
Camões a ele se referiu
Por ele morreu Dona Inês
E a dor que a Tristão cingiu
Fê-lo morrer outra vez
Que d'amor também morremos
Se de nós tudo lhe dermos
Porque amor é tudo, é nada
É em nós um alvoroço
Que nos toma pla calada
E nos aperta o pescoço
Como cordame de proa
Que ora folga, ora magoa
Amor é fogo sem fumo
Que arde em nós sem nos queimar
E nos deixa sem um rumo
Remexe sem molestar
Ave que voa na bruma
Rasando as ondas e a espuma
É bem que se expõe à lua
Buscando as sombras e a luz
Em alternâncias divinas
Benditas pelo Bom Jesus
Qu’isto de amar vem de Deus
Por
isso Ele nos fez tão Seus.
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