quarta-feira, 5 de outubro de 2011

PERJÚRIO de Eugénio de Sá



Perjúrio

(Eugénio de Sá)

Amor, que desta ausência a desventura
Eu sei que molda no teu peito a cruz
E que te esbate o excesso de ternura
Por que o porvir assim não te seduz;

É meu temor que se apouque a certeza
Na indulgência que o escrever transmite
Na carta onde percebo que a firmeza
Mente ao tremor que o perjúrio admite

Falta-me o chão e falta-me a coragem
E a minha solidez já não me ampara
Pra enfrentar o fim desta viagem

Crueis os fados que o amor separa
Ímpias as sortes que as vidas desfazem
Maldito o inferno que o demo prepara!