quarta-feira, 25 de abril de 2012

25 de Abril - Comemorar que revolução? - Sim, porque não comemos...liberdade!...um apontamento de Eugénio de Sá


25 de Abril
Comemorar que revolução?

- Sim, porque não comemos… liberdade!


Trinta e oito anos depois da Revolução dos Cravos que encantou o mundo, pela primeira vez, os homens que a levaram a cabo nas ruas de Lisboa, fizeram público que não iriam participar nas cerimónias habituais das suas comemorações. A mesma afirmação ouvimo-la na boca de políticos que a história consagrou como seus co-mentores, à cabeça dos quais está Mário Soares e o seu amigo e correligionário, o poeta Manuel Alegre.

“Digam a quem governa o que lhes vai na alma”, disse-o Miguel Portas, um homem cuja boca se calou ontem e para sempre, precocemente, em Antuérpia, longe do seu Portugal, que ele sempre amou e serviu.

Pois bem, se o disséssemos, teríamos de pedir contas aos tantos que nos levaram à situação em que hoje, lastimavelmente, o nosso pais se encontra; à beira da banca rota, ou quase. Gente incapaz, alguns mesmo desonestos, que se instalaram no poder mais para servir os amigos e a si próprios, que para servir realmente a cousa pública, de acordo com o juramento que fizeram quando formalmente tomaram posse dos seus cargos à frente da nação.

Em democracia, só há uma forma do povo dizer que este não é o caminho; é através do voto. É com este papelinho que o povo pode e deve castigar aqueles que se propuseram criar-lhe melhores condições de vida e que, ao invés, o levaram à falência. Mas sem soluções alternativas credíveis não cabia aos portugueses poder alterar este estado de coisas e assim se foram mantendo interminavelmente no poder aqueles que hoje são responsáveis pela situação a que chegámos.

Solidários, os três partidos dominantes e responsáveis pelos vários governos depois do 25 de Abril de 1974, juntaram-se há um ano atrás naquilo a que chamaram um amplo consenso nacional, que "a pátria impunha" para que ganhasse credibilidade o prometido cumprimento das regras que o Fundo Monetário Internacional, o Banco Central Europeu e a Comissão Europeia impunham para que nos fosse garantido o empréstimo de cerca de 74 mil milhões de euros, e que se diziam suficientes para equilibrar as contas públicas e pagar o empréstimo do dinheiro com juros substancialmente inferiores aos do mercado, então anormalmente altos por efeito da nossa baixa classificação anunciada pelas empresas norte americanas de rating.

Entretanto, os elementos que constituem a Troika, iniciavam as suas regulares visitas a Lisboa para controlar e fiscalizar “in loco” se a sua generosidade das Instituições que representam está a ser devidamente compensada, e se vai continuar a estar.


Precisamos de ganhar competitividade, esse é segredo para sair da crise, diz a Troika, e repetem em coro os nossos governantes. E para isso há que baixar salários, afirmam. Mas é um facto que já estamos abaixo da média europeia mais de 50% . Já em 2011, o custo médio por hora de trabalho em Portugal atingiu os 12,10 euros, um valor que, comparado com os 27,60 euros da restante zona euro, prova isso mesmo (dados revelados pelo Eurostat).

Acresce, que as tais regras impunham grandes reduções nas despesas do estado, mormente a estagnação dos salários, os despedimentos ditos amigáveis, mesmo que colectivos, os aumentos nos transportes, nos impostos, directos e indirectos, nos custos da electricidade, da água, do gás, etc, etc, o que fez que rapidamente os portugueses estejam agora a perder (em média) cerca de 273 euros por ano, relativamente aos anos imediatamente anteriores ao tal “generoso” empréstimo a três anos.

E o resultado de tudo isto foi um dramático aumento do desemprego e uma assinalável redução da economia, uma vez que o consumo interno baixou drasticamente, como seria de esperar. Por outro lado, o estado passou a cobrar menos impostos e a ter de desembolsar mais dinheiro através da Segurança Social, para responder ao pagamento de mais subsídios de desemprego e outras contribuições que a crescente crise veio a obrigar.

E, como o dinheiro não nasce do chão, têm vindo a ser estudadas medidas para minorar mais custos ao estado e aos pensionistas, que estão a sacrificar os portugueses e a levá-los a impensáveis níveis de empobrecimento.

É sabido que os trabalhadores do estado e os pensionistas vão ver já este ano e até 2015 desaparecerem os subsídios dos seus 13º e 14º mês, medidas estas que ainda está por saber-se se são ou não inconstitucionais.

É também sabido que as reduções orçamentais em todos os Ministérios vão, a curto prazo, obrigar a mais despedimentos - cujas regras também estão a mudar para muito pior para os trabalhadores (também faz parte do ganho de competitividade, dizem eles) - a reduções de custos nos transportes, na saúde, na educação e em muitos outros sectores da vida nacional, e necessáriamente, ainda e sempre mais despedimentos.

Nesta altura. o desemprego formal já ultrapassou os 15%, a percentagem mais alta da UE, só inferior à que se regista na vizinha Espanha e na Grécia.

E os jovens à procura do primeiro emprego são 35% do total de disponíveis para o efeito, o que fez o primeiro ministro sugerir a via da emigração como solução.

A tudo isto há que juntar a quase paralisação da Banca - entretanto a tentar capitalizar-se - no que diz respeito ao indispensável financiamento às empresas, que viram limitar em muito a sua actividade. muito sacrificada a esta crise. Acresce a este rol a real e praticamente completa paragem na construção civil, a maior empregadora.

E aí está configurada a conjuntura da desgraça para a qual o cidadão comum não contribuiu e a que assiste espantado e preocupado, porque está em causa a sua sobrevivência e a das famílias, muitas delas já endividadas e outras já completamente dependentes dos apoios públicos e/ou particulares que lhes possam chegar fazer chegar um prato de sopa. Por tudo isto, e pelo que se adivinha que mais aí virá, perguntamo-nos: e o que vai o país comemorar em 25 de Abril?

A pergunta é pertinente, pois sendo esta a data em que há 38 anos tudo foi prometido aos portugueses, estes vêm agora confirmada a sua vocação de continuarem a ser pobres, dos mais pobres de uma europa, cujos padrões de vida lhes estão cada vez mais longe.



Eugénio de Sá

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